A vida muitas vezes conduz-nos por caminhos desafiantes e, quanto mais tentamos fugir da realidade, mais intensamente ela nos confronta, às vezes de formas inesperadas. Frequentemente, a única saída é procurar refúgio no escapismo.
A nossa mente absorve e compartimentaliza os aspectos difíceis das nossas experiências, permitindo-nos seguir em frente — um mecanismo inconsciente. No entanto, esses pensamentos reprimidos podem ressurgir, manifestando-se como pesadelos que nos acordam no meio da noite, alterando profundamente a nossa percepção. Cada sono torna-se uma jornada pelo labirinto das nossas mentes, carregado de mensagens à espera de serem decifradas. Ignorar esses sinais apenas encoraja o seu retorno, cada vez mais forte do que antes, até que os confrontemos e resolvamos. As nossas mentes, vastos repositórios de informação, estão constantemente a ser bombardeadas por influências externas — redes sociais, televisão, publicidade — moldando os nossos pensamentos e comportamentos, muitas vezes sem darmos conta. Somos manipulados sem perceber, com uma falsa sensação de liberdade.
Como, então, navegamos por este labirinto de influências e quantos estão realmente conscientes da sua existência? Aqueles que ousam pensar de forma diferente são frequentemente rotulados como excêntricos ou loucos, mas é aí que reside a sua beleza — a sua singularidade. Podem sentir-se isolados, como peixes solitários num aquário lotado, rodeados por ilusões de conformidade.
Uma inspiração e um conceito que melhor representam o que estou a tentar transmitir no filme animado estão no livro de Emmanuel Carrère, “I Am Alive and You Are Dead”, onde, ao examinar a vida de Philip K. Dick, Carrère explora o conceito de “eldritch”, paralelo ao “unheimlich” de Freud, aludindo à natureza subjugada das coisas, mas também ao terror, aquele que nos faz gritar, como quando acordamos de um pesadelo. No entanto, a realidade é que já estamos acordados, não há escapatória: o horror está aqui!
Life often leads us down challenging paths, and the more we try to evade reality, the more forcefully it confronts us, sometimes in unexpected ways. Frequently, the only recourse is to seek refuge in escapism. Our minds absorb and compartmentalise the difficult aspects of our experiences, allowing us to carry on with life—an unconscious coping mechanism. Yet, these suppressed thoughts may resurface, manifesting as nightmares that jolt us awake in the dead of night, fundamentally altering our perception.
Every slumber becomes a journey through the labyrinth of our minds, laden with messages waiting to be deciphered. Ignoring these signals only emboldens their return, each time more potent than before, until we confront and resolve them. Our minds, vast repositories of information, are constantly bombarded by external influences—social media, television, advertising—all shaping our thoughts and behaviours, often without our awareness. We are unwittingly manipulated, our sense of freedom an illusion.
How then do we navigate this maze of influence, and how many are even conscious of its existence? Those who dare to think differently are often labelled as eccentric or mad, yet therein lies their beauty—their uniqueness. They may feel isolated, like solitary fish in a crowded tank, surrounded by illusions of conformity. An inspiration as well as a concept that best represents what I am trying to convey in the animated movie resides in Emanuel Carrer’s book, “I Am Alive and You Are Dead”, where in his examination of Philip K. Dick’s life”, Carrer delves into the concept of “eldritch,” paralleling Freud’s notion of the “unheimlich”, alluding to the subdue nature of things but also to the terror, the one that makes us scream , like when we wake up from a nightmare. The reality though, is that we’re already awaken, there’s no escape: the horror is here!
